terça-feira, 10 de abril de 2007

Violeta na janela


Violeta era e ainda é muito traquina, parece não envelhecer, mas à época que aconteceu o que vou narrar, ela tinha apenas nove meses de vida. É uma gata siamesa – mas nem de longe sonha em ter um pedigree. É magrela, tem a pelagem branca com alguns pontos marrons, pretos e cinzas e os olhos bem azuis. A mãe era pura, mas o pai era um vira-lata e ela herdou muito dele. Não costuma fugir, mas se encontrar uma brecha entra na casa do vizinho pela porta ou janela, sem pedir licença. É até carinhosa, mas não suporta que a pegue no colo, dá logo um jeito de se soltar, ainda mais se tiver algo interessante para fazer, como correr atrás de pequenos insetos, por exemplo. Ela é especialista em caçar baratas, mas nesta história, a coadjuvante é uma borboleta.

Naquela noite de 30 de outubro de 2001 cheguei em casa por volta das 19h e ao abrir a porta fui recebido por Violeta, que deixou a borboleta por alguns instantes para me pedir um pouco de carinho e atenção afinal, ficávamos quase o dia todo sem nos ver. Estávamos morando num prédio de seis andares, no bairro da Graça, em Salvador, acerca de um mês e Violeta ainda tinha muito para descobrir, apesar de passar parte do dia xeretando todos os cantos, mas não ficava na janela. Quando eu chegava sempre brincávamos um pouco antes que eu fosse para o chuveiro, mas naquela noite Violeta parecia ansiosa para continuar brincando com a borboleta de asas amarelas que, certamente, havia entrado pela janela, há pouco tempo.

A borboleta estava aflita, tentava escapar das garras afiadas da gata. Eu até tentei ajudá-la a fugir, mas não consegui, porque ela voou mais alto do que minha mão pôde alcançar. Então, fui para o meu quarto me preparar para o tão merecido banho e fui seguido por Violeta. Apesar de estar no sexto andar fechei a cortina, mas não a janela já que a noite estava quente e eu não pretendia me demorar e de fato, não me demorei. Mesmo com o barulho do chuveiro dava para ouvir Violeta brincando com a borboleta (o piso do quarto era de madeira). Percebi que ela estava ali, mas não me atentei para o fato de que a cortina estava fechada, mas a janela não. A borboleta pousou na cortina, Violeta pulou na cama e saltou em direção à sua presa. Não deu outra, foi uma queda livre de aproximadamente 20 metros de altura.

Resultado, nós fomos parar na primeira clínica veterinária que encontramos pela frente, a Planeta Animal, que fica na Barra. Vesti uma roupa rapidamente, desci as escadas como um furacão e ao chegar à garagem encontrei Violeta assustada embaixo de um carro. A boca sangrava muito e os olhos transmitiam toda a dor daquela queda. Voltei rapidamente pra casa, peguei a chave do carro, os documentos e um lençol para aquecê-la. Quando estávamos saindo encontramos minha sobrinha chegando do colégio. Denila me viu naquele desespero e só deu tempo de pedir a ela que entrasse no carro e no caminho fui explicando o que aconteceu. Foi assim que consegui relaxar.

O diagnóstico inicial não foi nada animador. A veterinária informou que Violeta teria que ficar em observação e que, durante a madrugada, seriam feitos todos os exames necessários para saber quais as partes do corpo foram afetadas com a queda. De antemão me disse que o caso era sério! Antes mesmo de ir para o trabalho eu fui à clínica e então, outra veterinária, Gabriela, me recebeu com todos os exames de Violeta nas mãos e, sem rodeios, declarou que não poderia me dar garantias. O mundo desabou sobre minha cabeça. Violeta bateu o lado direito ao cair e então quebrou a bacia, uma pata, dois dentes tiveram que ser extraídos, levou pontos na boca e o pulmão havia se descolado da pleura. Isso fez com que ela ficasse quase que dois meses sem miar – em compensação hoje mia demais. A pata direita não voltou ao normal, mas isso não a impede de saltar e os dentes extraídos parecem não fazer falta, só o sorriso é que não ficou muito bonito. Ah, teve um detalhe que eu ia me esquecendo... A pata gangrenou e por pouco, mas muito pouco a pata não foi amputada. Bom, se os gatos têm sete vidas, Violeta tem mais cinco. Sim teria seis se não tivesse caído do terceiro andar, mas essa é outra história.

2 comentários:

Rafaela Zugaib disse...

Poxa que história, o gato é realmente seu Ivan? Eu passei por um situação de aflição, mas foi com um cão, da raça hottweiler, tudo bem que ele não se jogou de nenhum andar, mas eu sofrir por demais. Foi bom ler a história e saber que no final Violeta ficou bem...

Anônimo disse...

Oi Rafaela, Violeta é minha sim. Não foi nada fácil passar por isso, mas nós aguentamos o tranco. O pior é que em menos de um ano ela sofreu outra queda, só que desta vez do terceiro andar.